sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Grandes partidos perdem candidaturas em relação a 2014

Apenas partidos pequenos aumentaram o número de candidatos nas eleições deste ano em relação a 2014. Enquanto siglas tradicionais, como PT, PSDB, MDB, PDT e PSB reduziram a quantidade total de registrados, houve um aumento expressivo entre as siglas de menor porte. O partido de Jair Bolsonaro (PSL) é o que mais apresentou candidatos - 1.451, um aumento de 74,4% em relação a 2014.
Somente 12 das 35 siglas existentes terão mais postulantes neste ano do que nas últimas eleições gerais - PSL, Pros, Avante, Podemos, PRB, Solidariedade, PMN, PCO, PSOL, Patriota, PPS, PRTB e PPL. Há ainda três partidos que estrearão nas urnas em âmbito nacional: Rede, Novo e PMB, que, juntos, somam 1.606 candidaturas.
Os números têm como base os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde, até quarta-feira, os partidos registraram oficialmente seus representantes. É possível que haja pequenas alterações até o dia 20, quando as informações estarão 100% atualizadas.

A legenda que mais aumentou o número de candidaturas foi o PCO (142,8%). A sigla, no entanto, é um ponto fora da curva - tinha apresentado somente 49 candidatos em 2014 e, agora, lançou 119. Em seguida, vem o Pros, com 1.018 candidatos, ante 485 em 2014 (aumento de 109,9%, mais que o dobro de um pleito para o outro).

Entre os que mais reduziram candidatos, estão o PCB (diminuição de 45,2%), o PTB (-33,4%) e o PSTU (-31,9%). Entre os tradicionais, PSB (-31,4%), PSDB (-18,3%) e PDT (-16,4%) tiveram os maiores índices de diminuição de candidatos. O PT registrou queda de 6,8% e o DEM, de apenas 2,6%.

Segundo o cientista político Marco Antônio Teixeira, da FGV-SP, uma das principais explicações pode ser a cláusula de barreira, que, a partir desta eleição, impõe aos partidos desempenhos mínimos para que sejam autorizados a ter acesso ao fundo partidário e ao tempo de televisão no horário eleitoral gratuito. "Os pequenos estão em busca de capilaridade", diz.
A nova regra exige, para 2018, que as legendas tenham 1,5% dos votos válidos para a Câmara, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da federação e com 1% em cada uma dessas unidades. A cláusula aumenta gradativamente até 2030 e busca afunilar o sistema partidário brasileiro, altamente fragmentado.
Para a cientista política Luciana Veiga, professora da UNI-Rio, a estratégia faz sentido e pode servir à sobrevivência. "Mesmo que não elejam muitos nomes, os partidos com várias candidaturas têm chance de alcançar a cláusula com uma votação mais pulverizada."

Um caso mais específico é o do nanico PSL, que, com a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência, atraiu deputados na última janela partidária e agora busca se consolidar com a ampliação da bancada no próximo pleito. "O PSL não tinha nada, arranjou meia dúzia de deputados e agora precisa crescer (para se manter vivo)", aponta Marco Antônio Teixeira.

Conforme o jornal O Estado de S. Paulo mostrou na quarta-feira passada, a nova casa de Bolsonaro registrou mais de 13 mil filiações em 2018, impulsionadas pela figura do presidenciável. Trata-se de número quatro vezes maior que o dos partidos adversários na disputa pelo Planalto.

Concentração
Quanto aos partidos tradicionais, a explicação da diminuição de candidaturas passa por um uso mais direcionado do novo fundo eleitoral. Com as regras inéditas de financiamento, as siglas apostam mais em candidaturas viáveis, com pouca abertura à renovação.

É o caso do PSB, a legenda tradicional que mais reduziu o número de postulantes. A estratégia, segundo o presidente Carlos Siqueira, é concentrar os recursos em campanhas com grandes chances de vitória. "O novo fundo não facilita a renovação", diz. O PSB não tem candidatura própria à Presidência e não compõe nenhuma coligação, mas conta com nomes fortes em eleições regionais.
"O fundo concentra muitos recursos nos grandes. O problema dos maiores não é dinheiro, não é sobrevivência. É otimizar os cargos que já têm", aponta Luciana Veiga.
Novos partidos têm 5,9% do total de candidatos 
Três legendas estreiam nas eleições com ao menos 1.606 candidaturas, cerca de 5,9% do total. Rede (774 candidatos), Novo (414) e PMB (418) apresentam nomes que criticam o sistema político tradicional e minimizam a importância da estrutura partidária e do dinheiro na campanha. Alessandra Monteiro, de 32 anos, trabalhou como voluntária para recolher assinaturas para criar a Rede e hoje é candidata a deputado estadual pelo partido em São Paulo. É a segunda vez em que ela concorre a um cargo eletivo - a primeira foi em 2014, pelo PSB. "Quando comecei a me interessar pela política, percebi como era difícil participar de um partido sem ter contatos nem sobrenome de família política. A Rede incentiva novas lideranças."

Também candidata a deputado estadual em São Paulo, Cris Monteiro, de 57 anos, disse que nunca havia pensado em concorrer até abril deste ano. Antes de passar pelo processo seletivo para se candidatar pelo Novo, era diretora administrativa do banco de investimento JPMorgan. Cris garante que sua campanha será financiada apenas com doações de apoiadores. "Estou ciente de que isso é o correto." 







cp

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