A publicitária Angélica Moreira, de 27 anos, é formada pela ECA-USP
(Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo) e faz
mestrado em comunicação na mesma instituição. No entanto, está há três
meses desempregada buscando uma recolocação no mercado de trabalho.

Moreira faz parte do grupo de negros que estão desempregados no país,
pessoas que são mais afetadas na busca por uma recolocação do que os
brancos. Segundo os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio), divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), 64,3% são pretos ou pardos entre os 12,8 milhões de
desempregados. Isso equivale a 8,2 milhões de brasileiros — dois em cada
três desempregados do país.
A Pnad ainda mostra que a taxa de desocupação dos que se autodeclaram
pretos foi de 14,5%, de 14% para pardos e de 9,5% para brancos no
segundo trimestre de 2019.
Mesmo com uma formação acadêmica robusta, a publicitária sente
dificuldades de conseguir trabalho formal. “Por mais que eu seja formada
na USP, eu não consigo emprego”, afirma.
A média nacional é de 12%. A pesquisa mostra que, dos 12,8 milhões de
desempregados, 52,1% são pardos, 34,7% são brancos e 12,2% são pretos.
Portanto, 8,2 milhões de desempregados do Brasil são pretos e pardos.
Significa dizer que, de cada três desempregados, dois são negros (pretos
ou pardos).
No Brasil, a população que se autodeclara preta ou parda representa 55,8% do total — segundo os dados da Pnad anual de 2018.
De olho nessa disparidade, o MPT-SP (Ministério Público do Trabalho de
São Paulo) criou, em 2018, o Grupo de Trabalho de Raça. Naquele
ano, embora ainda haja grande número de subnotificações, houve 205
denúncias por discriminação em razão da origem, raça, cor ou etnia no
mercado de trabalho — alta de 30,5% em relação a 2014, quando 157 casos
foram registrados.
Durante entrevistas de emprego, Moreira diz sentir olhares diferentes
para seu cabelo e sua roupa. “Eu já reparei que, quando eu não vou muito
arrumada, a relação é bem diferente. Parece besta, mas eu tenho que ir
de salto para passar firmeza, porque senão me tratam como criança”,
afirma.
A publicitária afirma que já teve o currículo questionado por ter
cursado na USP, uma das universidades públicas mais renomadas do país
“Já disseram: ‘Você fez USP mesmo? Você entrou com cotas?’”, conta.
Hoje, Moreira busca aprimorar o inglês, que é intermediário, para
conseguir um emprego na área em que é formada. Os horários do mestrado
também dificultam na recolocação no mercado.
Para o MPT-SP, os negros enfrentam mais dificuldade na progressão de
carreira, na igualdade dos salários e são mais vulneráveis ao assédio
moral dentro do ambiente de trabalho.
Para identificar esses desafios, foi lançado no dia 15 de agosto deste
ano o Observatório da Diversidade e da Igualdade de Oportunidades no
Trabalho.
A plataforma digital, criada em parceria com o escritório da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, compila uma série
de dados e informações com potencial para auxiliar na formulação de
políticas públicas de promoção da igualdade e diversidade no mundo do
trabalho.
O professor sênior da Faculdade de Economia da USP Hélio Zilberstein
classifica como "uma realidade” a maior dificuldade dos negros para
conquistar uma vaga de emprego. “Isso não representa uma novidade. Os
dados confirmam que há uma discriminação no mercado de trabalho", avalia
ele.
Para Zilberstein, é necessário apenas tomar cuidado ao mensurar o
tamanho da discriminação e incluir salários, cargos e escolaridade na
análise. "É necessário considerar grupos iguais de brancos e negros
antes de medir o tempo de desemprego. Claro que a dos negros vai ser
maior, mas vai ser menor do que se você avaliar todos os brancos e todos
os negros", afirma o professor.
Ao olhar para o futuro, Zilberstein lista a ampliação da qualidade
educacional como a única forma de reduzir a diferença entre bancos e
negros no mercado de trabalho. “A educação é o instrumento mais eficaz
para tornar uma sociedade menos desigual”, destaca ele, que cita os
sistemas de cotas como uma forma mais rápida para diminuir a questão.
Com Informações R7

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