Após o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovar ontem, por 10 votos a
1, o encaminhamento da denúncia contra o presidente Michel Temer à
Câmara — o documento chegou às 20h30 na Casa —, governo sabe que terá de
recomeçar toda a negociação com a base aliada e prepara-se para ouvir
pedidos de cargos e emendas parlamentares. Hoje será anunciada a
liberação de R$ 10 bilhões para os ministérios destravarem a agenda de
investimentos, o que irrigará o discurso dos deputados junto aos
respectivos eleitores.
Para garantir a rejeição da primeira
denúncia por corrupção passiva contra o peemedebista — a atual acusa o
presidente de organização criminosa e obstrução de Justiça —, Temer foi
obrigado a redesenhar os espaços no segundo e terceiro escalões do
governo. Primeiro para garantir os votos para encerrar o caso, depois
para premiar os parlamentares fieis.
Na época, um dos
parlamentares que ajudaram o Planalto a rearranjar as forças foi o
vice-líder do governo Beto Mansur (PRB-SP). Ele resumiu o cenário da
seguinte maneira: “Não vamos impedir ninguém de entrar no prédio. Mas os
aliados vão de elevador, os demais vão de escada”. Um integrante da
base reconheceu que essa metáfora está posta novamente. “Não se iluda:
deputado sempre vai querer um cargo a mais”, avisou um governista.
A
dúvida é se o atual ministro da Secretaria de Governo, Antonio
Imbassahy, terá forças políticas para conduzir esse processo. No dia em
que a primeira denúncia foi votada, ele desincompatibilizou-se do cargo e
foi ao plenário da Câmara de planilha em punho. De lá para cá, o
Centrão pediu a cabeça dele e o vice-presidente da Casa, Fábio Ramalho
(PMDB-MG), chamou-o de “seu m…” após não conseguir ser recebido em
audiência no Planalto. “É claro que Imbassahy terá força. Afinal, ele é o
portador da caneta-tinteiro do presidente”, disse um interlocutor do
governo.
A partir da próxima semana, será iniciada a articulação
para a escolha do relator da denúncia na CCJ. O PMDB ensaiou uma pressão
sobre o presidente da comissão, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), que não
surtiu efeito. O relator da proposta anterior, Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG)
já avisou que não aceita repetir a missão. “Não sei quem será o
escolhido. Mas entendo que não será um deputado do PSDB nem do DEM”,
ponderou Mansur. A expectativa é a de que, com os feriados, o texto
chegue ao plenário no final de outubro. Até lá, nada de reforma da
Previdência.
O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), acredita
que a tramitação da atual denúncia será menos tumultuada que a
anterior. Ele lembra que os deputados passaram um bom tempo discutindo
quais seriam as regras para votar a matéria na CCJ e no plenário. “Agora
que já definimos, ficará mais fácil o debate de ponto e contraponto. Na
vez anterior, o embate foi monopolizado pelos oposicionistas”, reclamou
Efraim.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) elogiou a decisão
do STF. “Ao enviar a denúncia para a Câmara, o Supremo decidiu que não
deve interferir na atuação do Congresso neste processo. Espero que a
Câmara tenha a mesma seriedade e decida por não interferir no papel do
Supremo, de dar andamento a um processo judicial grave e repleto de
provas, mostrando para a sociedade que ninguém está acima da lei”,
declarou.
Rodrigo Maia
O Planalto terá de
contornar, ainda, outro princípio de crise. O presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (RJ), fez duras críticas ao governo na noite de
quarta-feira, protestando contra a filiação do ministro de Minas e
Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho e do pai dele, o senador Fernando
Bezerra, ambos de Pernambuco, ao PMDB. Eles estavam insatisfeitos no
PSB e flertavam, também, com o DEM. Mais recentemente, o PMDB passou a
negociar a filiação de Marinaldo Rosendo (PSB-PE), que estava
praticamente acertado com o DEM.
Maia atacou o presidente do PMDB,
senador Romero Jucá (RR), e os ministros Moreira Franco
(Secretaria-Geral da Presidência) e Eliseu Padilha (Casa Civil). “Ele só
passou do ponto ao dizer que Temer prometera não influenciar os
socialistas a mudarem de legenda”, minimizou um cacique da base aliada.
jp.
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