Levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta que pelo
menos 904 mil cirurgias eletivas estão pendentes no Sistema Único de
Saúde (SUS) em diferentes estados e municípios do país. As cirurgias
eletivas não são de urgência ou emergência. O estudo, feito pela
primeira vez pelo conselho, divulgado nesta segunda-feira (4/12) mostra
que do total pelo menos 746 procedimentos cirúrgicos estão na fila de
espera há mais de dez anos e 83% dos pedidos entraram na fila a partir
de 2016. O Ministério da Saúde informou que desde maio passou a adotar o
sistema de fila única para organizar a demanda.
A
pesquisa traz dados enviados pelas secretarias de saúde de 16 estados e
dez capitais até junho deste ano. Outros sete estados e oito capitais
não enviaram informações, alegando não tê-las disponíveis ou por
negativa de acesso aos dados. Por ser o primeiro levantamento desse
tipo, não há dados dos anos anteriores. A pesquisa contabiliza o número
de procedimentos agendados, e não o número de pacientes na fila.
Na
lista de espera, a maioria dos pedidos de cirurgias é de catarata,
hérnia, vesícula, amígdalas e adenoide, além de cirurgias ortopédicas.
Os estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Ceará apresentaram o
maior número de cirurgias pendentes. Entre as capitais e estados que
disponibilizaram informações de perfil dos usuários, as mulheres
representam 67% dos pacientes que aguardam algum tipo de procedimento
especializado.
Angelita Máximo dos Santos, 53
anos, de Maceió, espera desde junho por um procedimento no olho. Depois
de fazer pela rede pública uma cirurgia de catarata, ela teve piora no
quadro de sua visão e foi encaminhada pelo médico para realizar um
procedimento de lavagem da lente colocada na primeira cirurgia.
Com
dificuldades para enxergar, Angelita teve que deixar o trabalho de
doméstica e cuidadora de idosos, o que acabou reduzindo a renda mensal
familiar. “Ele [o médico] disse que não podia passar os óculos, porque
eu não estava vendo nada, então eu tinha que esperar a lavagem da lente e
nunca ninguém ligou. Aí eu estou esperando”, relatou Angelita.
Médicos
alertam que a demora na realização de determinado procedimento é
decisiva no sucesso de um tratamento. O representante do Conselho
Brasileiro de Oftalmologia (CBO), Cristiano Caixeta, explica que a
demanda por procedimentos nos olhos tem crescido devido ao
envelhecimento da população, entre outros fatores. E a demora para
atender todas as solicitações está relacionada à falta de profissionais
especializados.
Já Mauro Ribeiro, presidente
em exercício do CFM, defende políticas integradas entre os entes
federados. “O número de pacientes que precisam dos procedimentos e não
tem acesso ao Sistema Único de Saúde é imenso. Tanto os dados do
Ministério [da Saúde], quanto os dados do Conselho Federal de Saúde são
subestimados, muito aquém da realidade. [….] É necessário que o governo
federal estabeleça políticas públicas com os estados e municípios para
poder organizar o sistema e dar acesso a esses pacientes ao sistema de
saúde”, disse.
Ministério da Saúde
O Ministério da
Saúde informou que, em julho deste ano, foi fechada a primeira lista
para cirurgias eletivas no SUS. A lista identificou pouco mais de 667
mil pacientes aguardando por algum procedimento eletivo no país. O
ministério ressalta que em maio deste ano adotou o sistema de lista
única para organizar a rede de saúde e diminuir a fila de espera. O novo
sistema tem o objetivo de centralizar as demandas em um único cadastro e
ampliar as possibilidades de atendimento do paciente para outros
hospitais de sua região.
De acordo com o
levantamento do CFM, o SUS realizou no ano passado mais de 1,5 milhão de
cirurgias eletivas. O número é inferior aos anos de 2015, que registrou
1,7 milhão de cirurgias; e 2014, com o total de 1,8 milhão, com base em
dados do sistema de informação do Ministério da Saúde.
O Ministério da Saúde divulgou na semana passada balanço parcial de
2017, que mostra crescimento de 39% no número de procedimentos
realizados na rede pública entre janeiro e setembro, mês que registrou
mais de 150 mil cirurgias.
A pasta informou
ainda que o governo federal repassa de forma regular mensalmente
recursos de média e alta complexidade a todos os estados e municípios e
ainda dispõe de R$ 250 milhões em valores extras que poderão ser
liberados para os gestores locais. Cerca de R$ 41,6 milhões já foram
liberados este ano para a realização de mutirões.
C.B.
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