Quando o primeiro recenseamento geral foi a campo, em 1872, o Brasil
era um império com menos de 10 milhões de habitantes, e a capital do
país ainda era o Rio de Janeiro. Nessa época, São Paulo estava longe de
ser a maior cidade do país e os municípios de Minas Gerais e Bahia eram
os mais populosos.
De lá para cá, o país se tornou uma república, Brasília foi criada e a
população chegou a 210 milhões de pessoas em 2019. São Paulo assumiu o
posto de maior município e, das 20 cidades mais populosas do país,
apenas quatro não são capitais.
Essas mudanças aconteceram ao longo de quase 150 anos, e podem ser visualizadas no gráfico feito com dados de 12 Censos Demográficos, oito deles organizados pelo IBGE, e das Estimativas de População.
“A ideia era estudar quais seriam os principais municípios em
momentos diferentes. Foi um período de rápida transformação de perfil,
de agrário para urbano, de uma população distribuída em pequenas vilas,
para concentrada em grandes cidades”, explica o demógrafo do IBGE,
Márcio Minamiguchi.
Ele acrescenta que os maiores municípios estavam no interior dos
estados e detinham grande área territorial e população predominantemente
rural, com um pequeno centro urbano onde estava localizada a sede
municipal.
No caso de Minas Gerais, a atividade mineradora foi um dos fatores
que contribuíram para o desenvolvimento da rede urbana do estado e para a
articulação de grande parte do território brasileiro. “A gente observa
no gráfico a resiliência das cidades de mineração, que permanecem como
grandes municípios até início do século XX”, avalia a geógrafa do IBGE,
Maria Mônica O’Neill.
Até a década de 1930, Minas Gerais tinha o maior número de municípios
entre os 20 maiores, até ser ultrapassado pelo estado de São Paulo.
Belo Horizonte, fundada em 1897, começa a ganhar destaque em 1920,
chegando a ser a terceira maior cidade na década de 1960.
Já a ascensão da cidade de São Paulo, superando o Rio de Janeiro em
1952, foi marcada por um período de forte crescimento econômico. O
município absorveu grandes fluxos migratórios formados por estrangeiros e
por pessoas vindas de outras regiões do país, principalmente do
Nordeste, para atender uma indústria que ainda era intensiva em mão de
obra.
“O capital mobilizado para a produção de café começa a migrar para o
setor industrial em São Paulo. Essa transição é mais concentrada
espacialmente, há um ganho com a proximidade. Quanto mais indústria
surge em um lugar, mais estímulo tem para outras se concentrarem ali”,
explica o geógrafo do IBGE, Marcelo Paiva da Motta.
Além do crescimento de São Paulo e das demais capitais, o gráfico
permite visualizar a formação de grandes aglomerados urbanos e o
processo de metropolização, como no caso dos municípios de Guarulhos,
Nova Iguaçu e Duque de Caxias, que tiveram rápido crescimento em meados
do século XX.
“Hoje em dia nós vemos que os processos de rearranjos espaciais
continuam, reforçam alguns padrões e trazem novos. Por exemplo, em São
Paulo há uma ‘desconcentração concentrada’, onde as indústrias saem da
região por conta do preço da mão de obra, mas se mantêm dentro do
estado”, finaliza Maria Mônica.
IBGE
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