As clínicas populares têm bom desempenho no site Reclame aqi, que recebe críticas de consumidores. O objetivo das clínicas não é oferecer tratamento de primeira linha ou competir com centros de referência. Essas empresas cresceram aproveitando o aumento do poder de compra das classes C e D.
Com mais dinheiro em casa, as famílias passaram a gastar mais com móveis e eletrodomésticos, TV a cabo, restaurantes — e saúde. Mesmo com a inflação e a escassez de crédito atuais corroendo o poder de compra, os gastos com saúde não são cortados. “Os pacientes preferem reduzir outros gastos a ter de voltar para a fila do SUS”, afirma Renato Meirelles, presidente da consultoria Data Popular.
“A má qualidade do serviço público joga a favor dessas empresas.” De acordo com uma pesquisa do Datafolha, 93% dos brasileiros estão insatisfeitos com o SUS. Além disso, os clientes dessas clínicas (com renda mensal de até 1 200 reais) têm dificuldade para pagar um plano de saúde, mas topam pagar por tratamentos esporádicos.
Uma nova opção
As clínicas também aproveitam a crescente insatisfação com os planos de saúde. Há três anos, o segmento lidera o ranking das reclamações do Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor. O preço está aumentando — a alta foi de 16% no último ano. Os médicos também reclamam. Os planos pagam, em média, 40% do preço da consulta — algo como 50 reais.
Descontados gastos com aluguel, secretária, água, luz e telefone, sobra pouco mais de 6 000 reais por mês para um médico que atenda apenas clientes do plano, segundo estimativas de mercado. As clínicas populares criaram um modelo para atrair os descontentes. Elas repassam aos médicos 60% da receita das consultas e bancam todas as despesas.
Segundo estimativas, nessas clínicas os médicos ganham, em média, 17 000 reais por mês — é metade do que ganhariam em hospitais de ponta, mas o triplo do que receberiam atendendo só clientes de planos de saúde.
“Durante muito tempo, as opções de um estudante de medicina eram abrir um consultório e conquistar clientes do plano de saúde ou ser plantonista em hospitais”, diz José Bonamigo, presidente da Associação Médica Brasileira. “As clínicas populares são uma boa opção.”
Como boa parte do valor da consulta é repassada aos médicos, essas empresas têm de investir em consultas simples, como definição do grau de óculos ou tratamentos de manchas de pele. Os tratamentos mais complexos são encaminhados aos hospitais tradicionais. Ainda assim, a margem de lucro fica abaixo de 5%. E as coisas podem ficar ainda mais complexas com a expansão recente.
Essas empresas, acostumadas a competir com os planos de saúde, deverão passar a disputar médicos entre si. Fechar as contas no azul, atrair bons médicos, atender bem os pacientes. O desafio é grande. Mas, com o SUS indo de mal a pior, mercado não há de faltar.
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